Refúgio é um assunto que me toca muito. Meu avô paterno era sírio e migrou para o Brasil ainda criança com mais dois irmãos e duas irmãs, e minha bisavó, viúva, em busca de uma vida com mais segurança e oportunidades. Minha avó paterna já nasceu aqui no Brasil, mas também filha de imigrantes libaneses. Penso que, se eles não tivessem encarado essa “aventura” de atravessar o oceano para uma terra desconhecida sem falar uma única palavra de português, talvez eu estivesse hoje tendo que deixar tudo para trás em busca de sobrevivência. Sou muito grata à história e à coragem deles e muito orgulhosa das minhas raízes. Mas aqui, a RAIZ é outra!
Para marcar o Dia Mundial dos Refugiados, hoje, 20 de junho, inauguro a sessão dedicada à arte neste site relembrando, aqui, a emocionante exposição que leva o nome acima e que esteve em cartaz na Oca (Parque do Ibirapuera, São Paulo) de outubro de 2018 a janeiro de 2019, a maior da carreira do artista e ativista chinês Ai Weiwei (Pequim, 1957).
A mostra ocupou 8 mil m² com obras já consagradas e mais 5 séries inéditas, criadas na sua imersão pela cultura brasileira, como as raízes mortas que o artista trouxe de Trancoso.
Questões políticas, sociais e humanitárias, como a crise mundial dos refugiados, são trazidas à tona através da obra do artista, que já foi preso, exilado, teve seu passaporte confiscado e seu ateliê em Pequim demolido.
“Um salva-vidas é um suporte flutuante destinado a manter uma pessoa à tona durante as emergências. É um símbolo de sobrevivência e, portanto, de vida.
Quando Ai Weiwei visitou a ilha de Lesvos, em 2015, viu a costa repleta de coletes salva-vidas e boias usadas pelos refugiados que tentavam chegar à Europa por via marítima. Mais de um milhão de pessoas buscaram segurança e abrigo na Europa em 2015, e as que se afogaram ultrapassaram três mil.
Pneu é um monumento ao entalhe perdido do mármore. Ele faz uma homenagem àqueles que arriscaram tudo em busca de uma vida melhor para suas famílias e seus entes queridos, bem como um lembrete sombrio das reações frias que muitas pessoas e nações tiveram em relação à crise em curso.”
Outra obra que aborda o mesmo tema são os “pilares” com vasos do tipo Quinghua, empilhados e pintados seguindo a tradição da Dinastia Ming (1368-1644) quanto à forma, estilo e técnica, representando os 6 temas principais da trajetória dos fluxos de refugiados que conheceu e estudou: Guerras, Ruínas, Jornada, Cruzando o Mar, Acampamentos de Refugiados e Manifestações.
De certa forma, Ai Weiwei também se considera um refugiado. Crítico dos abusos do governo chinês, sofreu muitas perseguições e repressões.
A belíssima instalação “Florescer”, com rosas e crisântemos em porcelana, evoca o período em que o artista teve seu passaporte apreendido e, em prisão domiciliar por cinco anos, era vigiado 24h por dia por 20 câmeras instaladas em sua residência. Como protesto, colocava diariamente flores na cesta de sua bicicleta, fotografava e postava em suas redes sociais com a #FlowersForFreedom. A hashtag viralizou e sua reivindicação foi atendida. Assim que recupera o documento, muda-se para Berlim e se depara com muitos refugiados em decorrência da guerra civil na Síria. A partir deste momento, passa a trabalhar neste tema tão urgente e necessário.
Abaixo, o trailer do documentário “Human Flow – Não existe lar se não há para onde ir”, dirigido pelo artista em 2017.
Sim, a arte escancara, emociona, e por isso, salva!
Priscilla
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